Biografia – THOMAZ DE AQUINO ARAÚJO

 

            Thomaz de Aquino Araújo nasceu em Campanha, em 10/07/1899, filho de Raphael de Araújo e Olympia Cândida da Fonseca e teve dois irmãos e uma irmã, Mariana Cândida Araújo, que durante muitos anos lecionou na Escola Normal da Campanha. Casou-se em 07 de julho de 1921, com Ana Lemes de Araújo, filha de Jeremias da Silva Lemes e Maria Gabriela das Dores Lemes, fazendeiros de Palmital, no município de Cambuquira/MG. Dessa união nasceram três filhas, Maria Thereza de Araújo Costa, Dulce de Araújo Queiroz e Nízia Lemes Araújo, esta falecida ainda na adolescência.

De origem modesta, Thomaz de Aquino Araújo não tinha condições de estudar fora de Campanha, mas frequentou o Seminário Episcopal de Mariana, onde ficou por dois anos, tendo que regressar a sua terra natal com o falecimento de seu genitor, passando a ser o arrimo da família. Para isso, trabalhava na selaria que fora de seu pai, usando os seus dons de bom desenhista na criação de modelos de montaria. Paralelamente, deu prosseguimento aos seus estudos no Externato do Professor Jonas Olyntho de Paiva. Thomaz de Aquino sempre admirou o seu mestre Jonas Olyntho pela sua capacidade didática e pela sua cultura, tendo a ele dedicado uma homenagem em 1979 com o folheto “Recordando… Figuras e Fatos”.

O Cônego Pedro Macário fundou em Campanha o Centro de Operariado Campanhense, em 1913, cuja meta era a instalação de um curso noturno. A direção foi confiada ao moço Thomaz de Aquino Araújo, juntamente com Luiz Veríssimo Paes e Diaulas Jose de Lemos, futuros professores da instituição. Esta escola permaneceu em atividade até 1951, quando passou a ser administrada pela municipalidade, tendo sempre prestado bons serviços à coletividade.

Em 25/01/1918, Thomaz de Aquino Araújo ingressa na antiga subadministração dos Correios da Campanha, onde permaneceu até 26/09/1967. A competência, a assiduidade e o grande amor ao trabalho foram responsáveis pela sua brilhante carreira na instituição, na qual chegou ao grau máximo de Diretor Regional, depois de galgar outros cargos de confiança na instituição, naquela época ainda Departamento de Correios e Telégrafos. Reconhecido por seu comportamento austero, exigente no cumprimento de prazos e horários, mas sempre atento às necessidades de seus comandados, inspirou respeito e admiração, tendo sido o mestre de quase todos que ingressavam na instituição. Realizou penosas viagens por razão de trabalho, inclusive para Manaus, na década de 1960, em uma época na qual estes deslocamentos eram difíceis. Quando da transformação do órgão Correios e Telégrafos em empresa pública, embora convidado por duas vezes para ocupar o cargo de Diretor , declinou do honroso convite por se tratar de função política, o que poderia implicar o seu deslocamento para fora de sua terra natal, o que não lhe interessava fazer. Achou que estava na hora de se aposentar, mas continuou auxiliando e orientando os funcionários que o procuravam para consultá-lo sobre assuntos administrativos.  Chegou inclusive a elaborar planos e estudos destinados à modificação e atualização dos serviços postais.

Dotado de grande cultura e de grande conhecimento e facilidade com a língua portuguesa, tinha as aptidões para o jornalismo, sendo também um exímio desenhista, talento este nato. Assim sendo, juntamente com outros campanhenses José Borges Netto, Eduardo Moraes e Luiz Veríssimo Paes atuou na revista “Alvorada”, sendo o responsável pela parte artística. Como caricaturista, desenhou a “Sia Maria Bonita”, pessoa simplória que trabalhava nas residências, cuja caricatura foi publicada na mencionada revista, números oito e nove, em 1929. Também fez um trabalho sobre a evolução da moda e dos penteados femininos em desenhos intitulados “Outrora e Hoje”, publicados no período de 1928 a 1930.

Apesar dos limitados conhecimentos em heráldica, participou com o historiador J. Guimarães dos estudos que deram origem ao desenho dos Brasões de Armas do Clero Episcopal e da Cidade de Campanha, trabalho este que pode ser apreciado na entrada da Catedral de Santo Antônio e nas dependências da  Prefeitura Municipal.

Usando os seus conhecimentos em desenho participou de vários concursos de selos postais comemorativos, desenhos estes condicionados às exigências normativas publicadas em edital no Diário Oficial de União.

O grande interesse de Thomaz de Aquino Araújo por história em geral, fez com que ele realizasse vários trabalhos literários nos quais abordou temas como a atuação dos bandeirantes na região sul mineira e vultos da Inconfidência Mineira. Para isso passava horas em pesquisa e compilações no arquivo público de Belo Horizonte. Também dedicou muito de seu tempo estudando e escrevendo sobre a História da Campanha, o seu tema favorito, meio que encontrava de divulgar a sua terra natal. Escreveu também sobre vultos campanhenses, tais como  D. João de Almeida Ferrão, primeiro bispo da Diocese da Campanha, de cuja sagração, em 19/09/1909, Thomaz de Aquino participou como coroinha.

Em 1970, Thomaz de Aquino Araújo publicou o primeiro fascículo da sua obra “Recordando… Figuras e Fatos”, opúsculo destinado a divulgar a vida do ilustre sacerdote Pedro Macário de Almeida, nomeado em 02/02/1910 Cura da Catedral. Thomaz de Aquino dedicou este trabalho aos membros do Instituto Histórico e Geográfico da Campanha, do qual passou a fazer parte desde 22/09/1969, ocupando a Cadeira no.53 e em cuja instituição apresentou trabalhos de relevante valor histórico.

Em 1973, juntamente com o então Diretor Regional dos Correios e Telégrafos, Sr. Carmegildo Filgueiras, publicou o livro “Os Correios na História da Campanha”, um valioso trabalho de pesquisa que registra os fatos e  personalidades locais.

O jornal “Voz Diocesana”, fundado em 1947 por D. Inocêncio Engelke e cuja direção foi assumida pelo Monsenhor José do Patrocínio Lefort em 28/02/1955, foi durante 33 anos ininterruptos o maior veículo de divulgação dos fatos ocorridos na cidade e também nele foram publicados vários trabalhos de escritores e historiadores campanhenses. Thomaz de Aquino foi um assíduo colaborador do jornal, com textos históricos e genealógicos, sendo o autor da coluna intitulada “Há Cem Anos…” que vigorou desde 1977 até o número 949 da referida publicação. Em outra coluna intitulada “Notas Bibliográficas” apresentou diversos estudos genealógicos de famílias campanhenses, pesquisa iniciada em 1964, o que levou Thomaz de Aquino a empreender viagens em busca de registros paroquiais, os únicos existentes antes do surgimento do Registro Civil. A participação de Thomaz de Aquino como colaborador da “Voz Diocesana” encerrou-se em 1980, quando o Monsenhor Lefort deixou a Diretoria do informativo.

Sempre atento aos acontecimento nacionais e internacionais, assinava o jornal “Correio da Manhã” e depois passou a assinar a “Folha de São Paulo”, tendo o hábito de recortar as notícias mais relevantes e montar um álbum com elas. Muitos desses álbuns acabaram tendo que ser eliminados pelo estado de deterioração em que se encontravam por não terem sido arquivados de forma conveniente. Os que sobreviveram aos efeitos danosos do tempo e da umidade foram entregues na biblioteca episcopal de Campanha, junto com outros livros de valor histórico, quando de seu falecimento.

Sendo um homem extremamente metódico e sistemático, sempre zelou muito por sua saúde física e mental, levando uma vida saudável, longe de cigarros e somente tomando bebidas alcoólicas em ocasiões sociais. Tinha uma ótima postura, nunca se curvando, literalmente, ao peso dos anos. Era muito conservado, nunca aparentando a idade que tinha, um motivo de vaidade para ele.  Era rigoroso com os horários das suas refeições e demais detalhes de sua rotina. Era avesso a festas e reuniões sociais, a não ser que tivessem uma finalidade cultural. Por outro lado gostava de ir a teatros e ao cinema, principalmente quando em viagens. Ia sempre a São Paulo, cidade de que gostava muito, acompanhando o Monsenhor Lefor em suas pesquisas.  Tinha uma memória privilegiada, recordando-se de fatos e datas com uma facilidade impressionante. Várias famílias o procuravam em sua residência para ter dados de seus antepassados e conhecerem as suas árvores genealógicas. Recebia todos que o procuravam, inclusive jovens estudantes em busca de dados para pesquisas escolares, com alegria e sentia-se satisfeito em ser útil.  Uma particularidade da personalidade de Thomaz de Aquino, que de certa forma revela o seu modo sistemático de ser e a sua dificuldade de adaptação às mudanças era o fato de que nunca alterou a sua maneira de vestir, nem mesmo o modelo dos sapatos que usava. Trajava terno diariamente, até para ficar em casa.  O máximo que admitia nos tempos de calor era arregaçar as mangas da camisa sempre branca e de manga comprida, retirar o paletó do terno, ficando só de colete quando estava em casa. O chinelo só era usado com o pijama à noite. Sempre calçando  botas que tinham botões laterais, esses calçados eram feitos por encomenda por um sapateiro em Belo Horizonte, pois não eram mais disponíveis no mercado, por refletirem uma moda do início do século XX.

Embora sistemático, era aberto às inovações tecnológicas. Quando do surgimento da máquina Xerox, ainda muito rudimentar e com cópias de má qualidade, ficava encantado com a possibilidade de documentos serem copiados por este meio, inclusive com a reprodução de fotos. Nunca soube usar a máquina de escrever. Escrevia todo o seu trabalho à mão, cabendo, na maioria das vezes, ao Sr. Jair Lemes, que conseguia entender sua letra com facilidade, datilografar os textos que seriam publicados.

Uma das características de Thomaz de Aquino, que de certa forma contrastava com a sua maneira austera de ser, era o seu carinho e interesse pelas crianças.  Quando diante de uma criança, fazia caretas, pilhérias e elas se divertiam com suas brincadeiras.  Sempre foi muito carinhoso com crianças de qualquer idade e elas também gostavam de seu jeito divertido de tratá-las.

Em 03/05/1984, sua esposa e companheira de mais de 60 anos faleceu após um ano de complicações decorrentes da doença de Alzehimer. Durante toda a enfermidade da esposa, Thomaz de Aquino esteve ao seu lado, fazendo-lhe companhia e orientando as cuidadoras. Com o falecimento da esposa, sentiu-se muito sozinho,  pois suas duas filhas residiam em outras cidades. Assim sendo, não resistiu à solidão e foi vitimado por um fulminante enfarto do miocárdio na manhã do dia 14/08/1985, aos 86 anos de idade, recém completados.

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